Gramsci e o Brasil: Indagando as Semelhanças entre Duas Questões
- Valter Israel

- 22 de out.
- 2 min de leitura

By: Valter Israel
data: 21/10/2025
A obra de Antonio Gramsci nos oferece um estudo profundo sobre a Questão Meridional italiana, que ele define como a desigualdade estrutural e histórica entre o Norte industrial e o Sul agrário da Itália, explorado e sob resquícios de um sistema quase feudal.
Será que essa análise, centrada na formação do Estado e na luta de classes italiana, pode ser um farol para a compreensão da Questão Camponesa e das profundas desigualdades regionais no Brasil? Poderíamos traçar um paralelo entre estas realidades, separadas por décadas e por um oceano?
A Estrutura da Desigualdade: O Paralelo Regional
Gramsci observou a hegemonia do Norte sobre o Sul, com o último servindo como mercado de escoamento e reservatório de mão de obra barata.
Será que há uma relação, uma semelhança fundamental, entre essa relação de hegemonia Norte-Sul na Itália e a histórica dicotomia brasileira, que coloca o Centro-Sul industrializado em uma posição dominante sobre as regiões marcadas pelo latifúndio e pela pobreza estrutural?
O Sul italiano foi visto como "atrasado" por fatores supostamente internos, uma visão que Gramsci buscou desmistificar. No Brasil, quando o "atraso" de certas regiões é atribuído apenas à cultura ou à inaptidão local, não estaríamos repetindo, em essência, o mesmo erro de análise, ignorando as dinâmicas de exploração interna?
Classes, Coesão e o Papel dos Intelectuais

No Sul da Itália, Gramsci identificou um "grande bloco agrário" composto por latifundiários, intelectuais e uma "grande massa camponesa, amorfa e desagregada". A falta de coesão e organização do campesinato era um fator-chave para a manutenção do status quo.
A estrutura fundiária concentrada no Brasil, que sustenta o poder de elites rurais e do agronegócio, encontra um espelho na figura do latifundiário italiano descrita por Gramsci?
A massa camponesa desagregada que Gramsci observou, que carecia de consciência e organização política unificada, não ecoa na situação da vasta população brasileira de trabalhadores rurais sem-terra ou de pequenos agricultores em regiões isoladas?
O papel dos intelectuais tradicionais no Sul italiano era mediar os interesses dos latifundiários junto ao Estado e manter o campesinato sob controle político. Será que no Brasil, figuras como os grandes políticos locais, o coronelismo ou mesmo certos agentes do Estado não exercem, de formas modernizadas, essa mesma função de mediação controladora?
A Estratégia Política: Em Busca de um Bloco

Para superar a Questão Meridional, Gramsci propôs uma aliança política e hegemônica entre o proletariado do Norte e os camponeses do Sul.
Essa estratégia gramsciana de unir os explorados das cidades e dos campos poderia sugerir uma reflexão sobre a necessidade de um bloco histórico entre a classe trabalhadora urbana e os movimentos camponeses brasileiros para lutar pela reforma agrária e por um novo projeto nacional?
Os desafios de construir uma contra-hegemonia no Sul italiano — superando a inércia, o fatalismo e o controle dos latifundiários — não se assemelham, em essência, aos obstáculos enfrentados pelos movimentos sociais brasileiros, como o MST, na luta por organização e consciência entre os camponeses?
Em última análise, as categorias de Gramsci sobre a Questão Meridional seriam apenas uma curiosidade histórica italiana, ou nos fornecem as lentes necessárias para, por meio dessas semelhanças, lançar luz sobre as contradições não resolvidas da formação social brasileira?








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