Entre a Solidão e a Solitude
- Brajeiradas criação de cont.
- 16 de abr.
- 1 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.

By: Nanci Polo
data: 12/04/2025
Há noites em que o mundo parece distante,
em que as luzes da cidade não aquecem,
e os rostos que passam são apenas vultos apressados,
incapazes de tocar a alma.
Nessas horas, a solidão escorre pelas frestas,
infiltra-se no pensamento como neblina densa,
e pesa — não no corpo, mas no espírito.
É o vazio que não se mede em metros,
mas em silêncios longos e olhares perdidos.
A solidão dói porque é ausência.
Falta de escuta, de mãos que saibam acolher.
É um eco dentro do peito, um grito sem resposta.
É estar e não ser visto.
É querer falar e não ter idioma que alcance o outro.
Mas há também outro tipo de silêncio,
mais leve, mais denso, mais cheio.
É a solitude.
Essa sim é escolha —
não fuga, mas refúgio.
É quando o mundo lá fora não nos falta,
porque dentro há vastidão.

Na solitude, o tempo desacelera.
Os pensamentos se assentam como folhas num lago.
O café tem outro gosto, o livro ganha voz,
a música toca cordas esquecidas.
É o instante em que a alma se senta à mesa consigo mesma
e, sem pressa, conversa.
Solitude é caminhar só, mas sem estar perdido.
É o prazer de não precisar se explicar,
de se bastar — não por orgulho, mas por paz.
É o silêncio que não oprime, mas revela.
Entre a solidão que sufoca
e a solitude que liberta,
há uma ponte tênue.
E atravessá-la requer coragem:
de se olhar por dentro,
de se fazer companhia,
de entender que estar só não é estar vazio —
às vezes, é estar inteiro.

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