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Entre a Solidão e a Solitude

Atualizado: 25 de abr.

By: Nanci Polo

data: 12/04/2025


Há noites em que o mundo parece distante,

em que as luzes da cidade não aquecem,

e os rostos que passam são apenas vultos apressados,

incapazes de tocar a alma.

Nessas horas, a solidão escorre pelas frestas,

infiltra-se no pensamento como neblina densa,

e pesa — não no corpo, mas no espírito.

É o vazio que não se mede em metros,

mas em silêncios longos e olhares perdidos.

A solidão dói porque é ausência.

Falta de escuta, de mãos que saibam acolher.

É um eco dentro do peito, um grito sem resposta.

É estar e não ser visto.

É querer falar e não ter idioma que alcance o outro.

Mas há também outro tipo de silêncio,

mais leve, mais denso, mais cheio.

É a solitude.

Essa sim é escolha —

não fuga, mas refúgio.

É quando o mundo lá fora não nos falta,

porque dentro há vastidão.



Na solitude, o tempo desacelera.

Os pensamentos se assentam como folhas num lago.

O café tem outro gosto, o livro ganha voz,

a música toca cordas esquecidas.

É o instante em que a alma se senta à mesa consigo mesma

e, sem pressa, conversa.


Solitude é caminhar só, mas sem estar perdido.

É o prazer de não precisar se explicar,

de se bastar — não por orgulho, mas por paz.

É o silêncio que não oprime, mas revela.

Entre a solidão que sufoca

e a solitude que liberta,

há uma ponte tênue.

E atravessá-la requer coragem:

de se olhar por dentro,

de se fazer companhia,

de entender que estar só não é estar vazio —

às vezes, é estar inteiro.


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