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O Vira-Lata que Mora em Você: Podemos Superar a Síndrome que Nos Impede de Avançar?

By: Fabrício Barbosa

Data: 08/02/2024

Você já se pegou pensando: "Ah, mas lá fora é que é bom de verdade"? Seja falando de um filme, de um produto, da organização de uma cidade ou até do jeito que as pessoas se comportam. Se essa sensação é familiar, pode sentar aqui com a gente, porque precisamos falar sobre um fantasma que assombra a autoestima do Brasil: o famoso Complexo de Vira-Lata.

Essa expressão foi cunhada pelo gênio Nelson Rodrigues após a fatídica final da Copa de 1950, nasceu no futebol, mas, como um bom drible brasileiro, escapou do campo e invadiu todas as áreas da nossa vida.


Mas o que é, afinal, essa tal síndrome?


É aquela vozinha chata no fundo da mente que sussurra que o que é nosso é, por definição, inferior. É a grama do vizinho (especialmente o vizinho do hemisfério norte) que parece não só mais verde, mas de uma espécie botânica superior, quase alienígena. É uma autossabotagem coletiva, uma tendência a nos colocarmos voluntariamente em uma posição de inferioridade.


Os Sintomas no Dia a Dia: Será que Você se Reconhece?

Esse complexo não é uma doença catalogada, mas seus "sintomas" são fáceis de identificar. Eles aparecem em conversas de bar, em posts de redes sociais e, o mais perigoso, dentro de nós mesmos.

  • A Autossabotagem Crônica: "Música brasileira? Legal, mas não se compara ao pop americano." "Filme nacional? Dou uma chance, mas sei que a produção de Hollywood é melhor." Reconhece? É a desvalorização automática de tudo que tem o selo "Made in Brazil".

  • O Pessimismo como Estilo de Vida: A crença de que "o Brasil não tem jeito". Qualquer notícia boa é recebida com desconfiança, e qualquer problema é visto como a prova final do nosso fracasso como nação.

  • A Régua da Gringa: A comparação incessante. Medimos nosso sucesso, nossa cultura e até nossa felicidade com uma régua importada, que quase nunca nos favorece, porque foi feita para medir outra realidade.

  • O Complexo de "Não-Pertença": A sensação de que para ser "bem-sucedido" ou "culto", é preciso negar as próprias raízes e adotar referências e estéticas de fora, estrangeiras, como se a nossa identidade fosse um rascunho a ser corrigido.


A raiz filosófica: Por Que Nos Sentimos Assim?


Aqui a conversa fica mais profunda. Esse sentimento não brotou do nada. Ele é um eco de uma ferida histórica, uma herança colonial que por séculos nos ensinou a olhar para a metrópole em busca de aprovação. Fomos condicionados a ver nossa cultura como "exótica", nossa gente como "miscigenada" (muitas vezes com tom pejorativo) e nosso potencial como algo a ser "descoberto" e "explorado" por outros.

O complexo de vira-lata é, no fundo, uma crise de identidade. Na dúvida sobre quem realmente somos, com toda a nossa complexidade e contradições, buscamos no espelho do outro uma imagem que nos valide. Mas um país com a dimensão cultural, étnica e criativa do Brasil não cabe em espelho nenhum. Ele é um mural.


O Antídoto: Como Curar o Vira-Lata Interior


A boa notícia é que essa síndrome é uma mentalidade, não um destino. E como toda mentalidade, ela pode ser transformada. Não se trata de ufanismo cego ou de ignorar nossos gigantescos problemas. Pelo contrário: trata-se de construir a autoestima necessária para resolvê-los.

  1. Ligue o Farol da Consciência: O primeiro passo é o mais simples e o mais difícil: reconhecer. Perceba quando você está usando a "régua da gringa". Questione sua reação automática de desvalorizar o que é nosso, nacional. Sem culpa, apenas com consciência.

  2. Mergulhe no Brasil Profundo: Vá além da Bossa Nova e do Carnaval. Escute o maracatu de Pernambuco, leia Guimarães Rosa, assista a um filme do Glauber Rocha, prove a culinária do Pará, admire a arquitetura de Brasília. O Brasil é um continente cultural. Explore-o.

  3. Aposte nas Nossas Fichas: Celebre as vitórias. Uma startup brasileira que inova, um cientista que faz uma descoberta, um artista que emociona, um projeto social que transforma uma comunidade. Precisamos ser os primeiros a aplaudir nossos próprios talentos.

  4. Exercite a Autoestima Coletiva: Ame o Brasil não “apesar” de suas falhas, mas “com” elas. Amar a si mesmo é abraçar tanto as qualidades quanto os defeitos que precisam ser melhorados. O amor-próprio nacional funciona da mesma forma. É ter orgulho da nossa resiliência, da nossa criatividade, da nossa alegria contagiante, sem fechar os olhos para a injustiça e a desigualdade que precisamos combater.

Superar o complexo de vira-lata é um ato de rebeldia. É entender que não precisamos da validação de ninguém para reconhecer nosso próprio valor. É trocar a autodepreciação pela autocrítica construtiva e o pessimismo pela esperança ativa.

Afinal, o vira-lata, em sua essência, é um símbolo de resistência, adaptação e de uma mistura única que resulta em algo surpreendentemente forte. Talvez seja hora de ressignificar esse termo e abraçar nossa identidade "vira-lata" com o orgulho que ela merece.

E você? Como você combate o vira-lata que, às vezes, tenta latir dentro de você? Conte pra gente nos comentários!

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